quarta-feira, 1 de abril de 2009

Auschwitz é logo alí...




O shopping é fresco, é lindo, é caro, mas é limpo, tem cheiro de perfume, tem cabelos lisos esvoaçantes, tem filme e pipopa por 15 reais. Paris é um charme, se vestem bem, falam francês, dizem que é puro glamour, não vemos negros andando com branco, o metrô fede, Josephine Baker infelizmente só nos cartões de Montmartre, mas o Channel vende muito bem obrigado. O ingresso do teatro que custa 80 reais, 120 reais, 220 reais no Rio ou em São Paulo é ótimo porque a gente paga com Cartão de Crédito. Arte não é para todos...É?

São muito boas as novelas brasileiras (arte para todos. É? arte? todos?), a gente viaja o mundo inteiro. e CONHECE novas culturas. É? Mimesis perfeita... Eu to escrevendo uma novela, mas foi uma novela ela ser aceita pela emissora. É uma história de uma Madame da Hight Socity brasileira que foi raptada quando estava no seu carro de luxo, indo para o aeroporto. Estava com viagem marcada para Paris-Ilhas Gregas, mas acabou andando a pé a América Latina inteira.
Os sequestradores eram pesquisadores de grupo de teatro do Brasil que faziam um "trabalho de campo", como eles costumam dizer. Cheguei a gravar umas cenas: C1: Granfina em área de desmatamento no Pará; C2: Granfina na favela; C3: Granfina em La Paz; C4: Granfina trabalhando com as cholas; C5: Granfina e as minas do Peru; C6: Granfina e os predinhos da Guaicurus; C7: Granfina e as FARC, Granfina, A ressurreição... Aconteceu que não deu muito ipobe. A novela tá guardada aqui. Não era um clássico. Diseram que as imagens eram muito fortes, tava mais pra filme da Tela Quente... Aí eu disse que cena forte é o Márcio Garcia e Juliana Paes de indianos, é tão forte que o povo até acredita...É tão forte que mata. Mata muito. É quase um genocídio. Exagerei. É?

Mas vamos ser felizes! Vamos parar com essas picuinhas, né? Ah! bobagens.

Sim...bobagens. Como tudo que um dia vai virar bobagem. Como nas novelas. Tudo. a menina jogada do prédio, o menino arrastado, os meninos e meninas que nao tem nome e nao puderam aparecer na televisão, as crianças escondidas nos porões das casas vizinhas que a gente ainda não descobriu...


Auschwitz não é nada. É tudo. Da singularidade para o reconhecimento plural. É sinônimo. São.
Diluída, Auschwitz coexiste nos nossos dias. Judeus são nossas crianças, nossos velhos, nossas putas, nossos bolivianos, nossos brasileiros, nossos chilenos, nossos peruanos, nossos colombianos, nossos venezuelanos, nossos equatorianos, nossos, nossos nossos. Ossos Ossos Ossos. Somos nós, ossos escondidos em terras férteis.
Nossa ditadiária em casa e na rua. Somente um lembrar que um dia foi DAQUELE jeito, mas sem esquecer que agora é igual, mas diferente.
Se "escrever poesia após Auschwitz é um ato de barbárie", como disse Adorno, continuar a viver como estamos vivendo também o é. E é mesmo, e é, e é, e é.

E aí?
Mas e aí?






"Me fura com uma faca, mas me fura e fecha" (www.desangue.blogspot.com)

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